terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sugestão de natal 3

José Gomes Ferreira
Dias Comuns
Diário
Editora D. Quixote


 20 de Dezembro de 1968:
Assisti a duas reuniões do júri "O Natal visto pelas crianças". Leitura cansativa de quilos de exercícios escolares, sem graça nem tino, onde apenas se salvam, por pitorescas aqui e além, algumas indigestões dos versos tradicionais das Janeiras.
Sensação trágica de que a fórmula de pesquisa nestes concursos só pode ser esta: ignorar as prosas bem escritas, quase sempre convencionais, hirtas, redigidas pelas mãos-fantasmas dos pais ou dos professores por dentro das mãos dos miúdos. E procurar as outras, as dos cábulas, mal escritas, cheias de asneiras, mas às vezes com saborosos acasos de expressão.
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/images/jgf_f14.jpgQuer dizer: por esta amostra a Pátria continua do avesso.
(Senhores: como as crianças andam pobres por dentro!)




(A ler na nossa biblioteca)

Sugestão de Natal 2





Obra Vencedora Prémio José Saramago 2015 Quem matou Joãozinho Treme-Treme no terreno perto do depósito da água? O que aconteceu à virginal Vera, desaparecida de casa dos pais a dois meses de completar os dezasseis anos? Quem foi o homem que, a exemplo do velho Abel, encontrou a paz sob o céu pacífico de Port of Spain? Porque é que os habitantes do Bairro Amélia nunca esquecerão o Carnaval de 1989? Quem é que poderá saber o nome das três crianças mortas por asfixia no interior de uma arca? Onde teria chegado Beto com o seu maravilhoso pé esquerdo se não fosse aquela noite aziaga de setembro? Quantos anos irá durar o enguiço de Laura? De que mundo vêm as sombras de Ernesto, fabuloso empregado de mesa, Fernando T., assassinado a 26 de dezembro de 1999, Jaime Lopes, fumador de SG Ventil, Hortênsia, que viveu e morreu com medo de tudo? Quando é que Roberto, anjo exterminador, chegará ao bairro para consumar a sua vingança? Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de Domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados: a Humanidade inteira arde no Bairro Amélia.

Quem é o autor?

 Bruno Vieira Amaral nasceu em 1978. Formado em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE, é crítico literário, tradutor, e autor do Guia Para 50 Personagens da Ficção Portuguesa e do blogue Circo da Lama. Em 2002, uma temerária incursão pela poesia valeu-lhe ser selecionado para a Mostra Nacional de Jovens Criadores. Colaborou no DN Jovem, revista Atlântico e jornal i. Atualmente colabora com a revista Ler e é assessor de comunicação das editoras do Grupo Bertrand Círculo.

As Primeiras Coisas é o seu primeiro romance. Foi considerado livro do ano em 2013 para a Revista Time Out (ano em que o autor recebeu o Prémio Novos por se destacar na literatura).

Mais recentemente, As Primeiras Coisas, foi distinguido com o Prémio PEN CLUBE Narrativa, Prémio Literário Fernando Namora e Prémio Literário José Saramago 2015. (de Wook)

Sugestão para o Natal


 "Um piano para cavalos altos" de
Sandro William Junqueira
Editorial Caminho

Sandro William Junqueira. Nascido na Rodésia, um país que já não existe, e mudando-se aos dois anos para Portugal, este autor, que se divide entre escrita, música, pintura e atuação, demonstra em livros como Um Piano Para Cavalos Altos ou No Céu Não Há Limões um admirável espírito inovador. As suas narrativas não determinam tempo ou geografia, os personagens não têm nome próprio e os enredos são quase surreais -

Uma cidadela cercada pela natureza onde os lobos são ameaça. Um muro que serve de barreira. Uma sociedade exemplarmente organizada, anos após um grande desastre. Um governo que sabe que o medo é motor e que legisla música. Uma fábrica que produz empadas e apronta cremações. Um microcosmo familiar onde um filho é amarrado a um piano. Um homem dotado da capacidade de sonhar com aquilo que ainda não aconteceu, mas que é certo ir acontecer. Uma rebelião que se levanta. Um cavalo que não perde elegância. Um corvo que gralhará na hora da sorte. Um Piano para Cavalos Altos pretende ser uma metáfora de um mundo regido pela ordem, pela disciplina. Uma premente reflexão sobre o poder: o poder do controlo, o poder da comunicação, o poder do corpo.

de:  http://www.revistaestante.fnac.pt/quem-sao-os-novos-autores-portugueses/

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A substância do AMOR

"A crueldade feminina fascina os homens. Amar uma mulher sem veneno é como jogar à roleta russa com uma pistola de fulminantes. A obscura força que leva um sujeito a lançar-se da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, preso a uma frágil lona, em direção ao imenso azul, aos prédios aguçados, às areias luminosas  da Praia do Pepino, é a mesma que o precipita, indefeso e nu, para os braços de uma mulher. Quando o louva-a-deus encontra a sua deusa e esta lhe diz, "vem, vou-te comer", o infeliz sabe que aquilo não é metáfora. Mesmo assim, seguro de  que depois do amor será servido ao jantar, o louva-a-deus persigna-se e vai. É o que nós fazemos.

José Eduardo Agualusa
"A substância do Amor e outras crónicas"

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Valter Hugo Mãe escreveu...

As bibliotecas são como aeroportos. São lugares de viagem. Entramos numa biblioteca como quem  está a ponto de partir. E nada é pequeno quando tem uma biblioteca. O mundo inteiro pode ser convocado à força dos seus livros.
Todas as coisas do mundo podem ser chamadas a comparecer à força das palavras, para existirem diante de nós como matéria da imaginação. As bibliotecas são do tamanho do infinito e sabem toda a maravilha.
Os livros são família direta dos aviões, dos tapetes-voadores ou dos pássaros. Os livros são da família das nuvens e, como elas, sabem tornar-se invisíveis enquanto pairam, como se  entrassem para dentro do próprio ar, a ver o que existe dentro do ar que não se vê.
O leitor entra com o livro para dentro do ar que não se vê.
Com um pequeno sopro, o leitor muda para o outro lado do mundo ou para outro mundo, do avesso da realidade até ao avesso do tempo. Fora de tudo, fora da biblioteca. As bibliotecas não se importam que os leitores se sintam fora das
bibliotecas.
Os livros são toupeiras, são minhocas, eles são troncos caídos, maduros de uma longevidade inteira, os livros escutam e falam ininterruptamente. São estações do ano, dos anos todos, desde o princípio do mundo e já do fim do mundo. Os livros esticam e tapam furos na cabeça. Eles sabem chover e fazer escuro, casam filhos e coram, choram, imaginam que mais tarde voltam ao início, a serem como crianças. Os livros têm crianças ao dependuro e giram como carrosséis para as ouvir rir. Os livros têm olhos para todos os lados e bisbilhotam o cima e baixo, o esquerda e direita de cada coisa ou coisa nenhuma. Nem pestanejam de tanta curiosidade. Querem ver e contar. Os livros é que contam.
As bibliotecas só aparentemente são casas sossegadas. O sossego das bibliotecas é a ingenuidade dos incautos. Porque elas são como festas ou batalhas contínuas e soam trombetas a cada instante e há sempre quem discuta com fervor o futuro, quem exija o futuro e seja destemido, merecedor da nossa confiança e da nossa fé.
Adianta pouco manter os livros de capas fechadas. Eles têm memória absoluta. Vão saber esperar até que alguém os abra.
Até que alguém se encoraje, esfaime, amadureça, reclame direito de seguir maior viagem. E vão oferecer tudo, uma e outra vez, generosos e abundantes. Os livros oferecem o que são, o que sabem, uma e outra vez, sem refilarem, sem se aborrecerem de encontrar infinitamente pessoas novas. Os livros gostam de pessoas que nunca pegaram neles, porque têm surpresas para elas e divertem-se a surpreender. Os livros divertem-se.
As pessoas que se tornam leitoras ficam logo mais espertas, até andam três centímetros mais altas, que é efeito de um orgulho saudável de estarem a fazer a coisa certa. Ler livros é uma coisa muito certa. As pessoas percebem isso imediatamente. E os livros não têm vertigens. Eles gostam de pessoas baixas e gostam de pessoas que ficam mais altas.
Depois da leitura de muitos livros pode ficar-se com uma inteligência admirável e a cabeça acende como se tivesse uma lâmpada dentro. É muito engraçado. Às vezes, os leitores são tão obstinados com a leitura que nem acendem a luz. Ficam com o livro perto do nariz a correr as linhas muito lentamente para serem capazes de ler. Os leitores mesmo inteligentes aprendem a ler tudo. Leem claramente o humor dos outros, a ansiedade, conseguem ler as tempestades e o silêncio, mesmo que seja um silêncio muito baixinho. Os melhores leitores, um dia, até aprendem a escrever. Aprendem a escrever livros. São como pessoas com palavras por fruto, como as árvores que dão maçãs ou laranjas. Dão palavras que fazem sentido e contam coisas às outras pessoas. Já vi gente a sair de dentro dos livros. Gente atarefada até com mudar o mundo. Saem das palavras e vestem-se à pressa com roupas diversas e vão porta fora a explicar descobertas importantes. Muita gente que vive dentro dos livros tem assuntos importantes para tratar. Precisamos de estar sempre atentos. Às vezes, compete-nos dar despacho. Sim, compete-nos pôr mãos ao trabalho. Mas sem medo. O trabalho que temos pela escola dos livros é normalmente um modo de ficarmos felizes.
Este texto é um abraço especial à biblioteca da escola Frei João, de Vila do Conde, e à biblioteca do Centro Escolar de Barqueiros, concelho de Barcelos. As pessoas que ali leem livros saberão porquê. Não deixa também de ser um abraço a todas as demais bibliotecas e bibliotecários, na esperança de que nada nos convença de que a ignorância ou o fim da fantasia e do sonho são o melhor para nós e para os nossos. Ler é esperar por melhor. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

LIVRO DO MÊS - NOVEMBRO


O livro do mês de Novembro nas nossas bibliotecas é...

Os Eco-heróis no Planeta Verde
de Lucília Maria Guedes

e conta com belíssimas ilustrações de Victor Hugo Freitas
A edição é do Grupo Criador Editora - Espinho


 

Uma grande tempestade obrigou Pedro e os seus cinco amigos a entrarem na nave que os conduziria ao planeta verde (...)
(...) Trovões que ressoavam no peito, poções transformadoras, descidas vertiginosas nas vassouras mágicas da aldeia das bruxas, um encontro com um bebé morcego, a exploração do paraíso das profundezas oceânicas e dos mistérios das florestas...
(...) Será que o Pedro e os seus amigos vão fazer tudo para ultrapassarem as grandes confusões e comportarem-se como verdadeiros eco-heróis?

O 25 DE ABRIL CONTADO PELA MARIA ANTUNES

  A MARIA FREQUENTA O 4.º ANO DA ESCOLA BÁSICA DA REGEDOURA. GRAVOU ESTE VÍDEO, SOBRE O 25 DE ABRIL, PARA ENVIAR  À SUA PROFESSORA, DIANA OL...