domingo, 12 de outubro de 2008

Mandamentos do leitor

Nenhum leitor começa devorando uma peça de Sheakespeare

Somos iniciados às letras com ba-be-bis e palavras do nosso quotidiano no berço (mamã, bola). Em seguida conhecemos livros infantis, com histórias simples e personagens de cores chamativas. Mas é na adolescência que a pessoa define que tipo de leitor ela será: se um mero "passador de olhos" por capas de jornal pela manhã, se um leitor ocasional motivado pela faculdade ou pelo trabalho, ou alguém que ama ler.

  • Nunca leia por hábito. Um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objectivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
  • Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinquenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.
  • Nunca leia sem dicionário. Se estiver a ler deitado, ou na praia, ou em qualquer outra situação, anote as palavras que não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.
  • Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. É importante escolher bem o que vai ler.
  • Faça do livro um objecto pessoal, um objecto íntimo. Assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. O livro é o mais interactivo dos objectos. Ele vai consigo de carro, de combóio. Vai com você para outros países.
  • Leia muito. Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.
Alberto Mussa (EntreLivros)