quarta-feira, 15 de outubro de 2008

DA PALAVRA ÀS ESCOLHAS

Um profissional da palavra dever ter presente a ideia de que a Poesia pode abrir rasgos de lucidez no futuro adulto, nomeadamente através de jogos de língua. Primeiro, para activar a aquisição da linguagem; depois, para criar a ressonância silábica, e, não menos importante, para estabelecer ordem no domínio do raciocínio individual. Desta forma, a palavra deve chegar à criança após um trabalho muito sério e orientado pelo educador / professor, sempre no sentido de dignificar os significados e o uso, com o propósito de estimular a sensibilidade estética e de desenvolver a capacidade criativa.

Os efeitos da publicidade

Numa sociedade de mosaico, caracterizada pela massificação dos gostos e sentidos, devemos ter a lucidez para identificar os valores instilados com muita subtileza, quase sempre provocando desequilíbrios emocionais irreversíveis. Verifica-se, com particular acuidade, que o consumismo condiciona seriamente as preferências das crianças e jovens, e vai impondo repetitivos padrões de escolha.

Nesse sentido, cabe aos educadores e formadores estabelecer laços de convivência entre a criança e a Poesia, por forma a favorecer a estruturação da personalidade e a consolidar mecanismos de conduta consentâneos com uma sociedade que se pretende mais justa e equilibrada.

O estruturante Não

Uma das dificuldades constatadas pelos educadores e professores, na prossecução das actividades escolares, prende-se com a antipatia imediata ao respeito pelas normas instituídas, necessárias ao bom funcionamento das organizações. Num quadro de referência de cumprimento de regras, nem sempre a criança está devidamente sensibilizada a aceitar uma recusa da sua atitude, por não ter tido oportunidade para reflectir nela. Caberá aos pais, numa primeira fase, explicar coerentemente a utilidade do não, mostrando que a nossa felicidade pode não passar pela aquisição de um objecto tecnologicamente evoluído, mas mais seguramente por um livro, conquanto despertador permanente da nossa força criadora.

Sendo mais estruturador da personalidade, porque obriga a repensar critérios de escolha e asserção, favorece a aquisição da linguagem e consolida-se com o estudo da Língua, como realidade plástica viva e moldável aos interesses de aprendizagem regulada.

Hélder Ramos
Profº de Língua Portuguesa