Noite de Natal
Era uma noite de inverno. Calada, A neve tombava em flocos, branca e leve; E os tristes, que não tinham pão nem sede, Abraçavam-se, à neve, aconchegada...
O gelo endurecia a estrada... Era o fim do caminho! E o fim, onde é? Era uma noite igual àquela em que o Menino, Na palha enjeitado, ao luar surgiu...
Porque, assim como há mil e oitocentos anos, Tantos milhares de criaturas humanas, Houve natais que foram natais humanos, E natais que foram natais de bestas-feras...
Era o fim do caminho! E o fim, onde é? Era a estrela polar... Quem a divisasse? A casa mais próxima estava longe, e, ao pé, Os lobos uivavam... Se o Menino chorasse!
Era uma noite de inverno. Calada, A neve tombava em flocos, branca e leve... E os tristes, que não tinham pão nem sede, Abraçavam-se à neve, aconchegada...
(Guerra Junqueiro) (17/9/1850-7/7/1923)
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