quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Analfabetos muitos

A figura que há tempo domina a cena social é a do “analfabeto secundário”. Pode ser um ministro, um gestor, uma empregada de caixa de supermercado. Sabe ler e escrever mas diz com frequência que não tem tempo para ler, tem coisas mais importantes para fazer. É activo, adaptável, tem boa capacidade para abrir caminho, safa-se na vida. Está muito bem informado sobre os importantíssimos assuntos do dia que amanhã esquecerão. Sabe ler as informações de uso dos objectos que compra. Sabe usar os cartões de crédito e sabe passar cheques. Vive dentro de um mundo que o afasta hermeticamente de tudo quanto possa inquietar a sua consciência. A atrofia da memória não o preocupa. Aprecia a sua própria capacidade para se concentrar em nada. Vê a cultura como espectáculo ou mercadoria. Não tem a menor ideia de que é um analfabeto, analfabeto secundário, mas analfabeto. 
A sua escrita está reduzida ao mínimo. O seu meio ideal é a televisão, as redes sociais, o SMS. Habita o território do lugar-comum e alimenta-se de doses fartas das “reflexões” de comentadores, políticos, económicos, desportivos e outros produtores do pensamento único.
Poeta e escritor, comissário do 1.º Encontro da Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia 
José Fanha no Público

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