sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Biblioteca Recomenda - Outubro




Goa ou o Guardião da Aurora


de Richard Zimler


Editora - Gótica 2005




Romance histórico que esclarece partes obscuras da História nacional : judeus, cristãos-novos, Inquisição... Neste livro também os ambientes exóticos de Goa e Índia, os rituais hindus, a fauna e flora locais são descritos de um modo maravilhoso.




Biblioteca Recomenda - Outubro





Os anagramas de Varsóvia



de Richard Zimler



Editora - Oceanos, 2011






A ocupação nazista durante a II Guerra Mundial e o Holocausto

Entrevista ao DN

Visitas à nossa Escola??!!


Richard Zymmler, Ndalu de Almeida (mais conhecido por Ondjaki) e João Pedro Mésseder são as propostas da Biblioteca escolar para este ano letivo! Aguardamos confirmação da sua vinda à nossa Escola.

Fiquem atentos e não percam pois certamente as suas visitas constituirão momentos bem interessantes de convívio com os autores de alguns dos livros que vocês já leram e que têm na vossa biblioteca!<


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Uma casa cheia de livros, José Luís Peixoto



Uma casa cheia de livros

Os livros, esses animais sem pernas, mas com olhar, observam-nos mansos desde as prateleiras. Nós esquecemo-nos deles, habituamo-nos ao seu silêncio, mas eles não se esquecem de nós, não fazem uma pausa mínima na sua vigia, sentinelas até daquilo que não se vê. Desde as estantes ou pousados sem ordem sobre a mesa, os livros conseguem distinguir o que somos sem qualquer expressão porque eles sabem, eles existem sobretudo nesse nível transparente, nessa dimensão sussurrada. Os livros sabem mais do que nós mas, sem defesa, estão à nossa mercê. Podemos atirá-los à parede, podemos atirá-los ao ar, folhas a restolhar, ar, ar, e vê-los cair, duros e sérios, no chão.

Quando me pediram para entrar numa sala, entrei. Não contava surpreender-me. Estávamos numa biblioteca pública e eu era capaz de imaginar com antecedência o que me queriam mostrar. A senhora que caminhava dois passos à minha frente era dona de uma voz branda, feita de boa fazenda, e dizia que se tratava da oferta de um senhor que tinha morrido. O filho tinha cumprido a vontade do pai e tinha acordado as condições com a biblioteca: quase nenhumas. A sala não era uma sala, era uma sucessão de salas. Cada uma delas estava completamente ocupada por estantes cheias. Com a mesma voz de antes, a senhora explicava-me que os livros tinham vindo nas próprias estantes onde estavam. Uma empresa de mudanças tinha-se ocupado desse serviço durante dia e meio, sem parar, meia dúzia de homens.

Eu já vi muitos livros e não contava surpreender-me mas, depois, prestei mais atenção. Enquanto ouvia a descrição do cenário em que encontraram os livros - uma casa cheia de livros, todas as paredes cheias, do chão ao tecto, prateleiras com duas fileiras de livros, pilhas de livros - foquei o meu olhar nas lombadas, nos títulos. A forma como estavam ordenados, lembrou-me a caligrafia da minha avó, uma caligrafia septuagenária, agarrada a uma perfeição talvez desnecessária, a um esforço de manter a correcção mesmo depois de estar quase tudo perdido, como se essa correcção pudesse salvar. Tratava-se de uma organização que previa a dimensão estética - o tamanho das edições, as colecções, as cores das capas - mas, também, uma vertente literária - géneros, história da literatura - e alfabética - B depois do A. Por vincos ínfimos, dava para perceber que eram livros lidos. Mas tão bem tratados, tão minuciosamente acarinhados. Ao mesmo tempo, entre prateleiras, entre salas, fui percebendo quais eram os autores que, criteriosamente, não estavam representados e quais os que tinham toda a sua obra naquelas estantes; fui percebendo quais os períodos e os temas que interessavam à pessoa que juntou todos aqueles milhares de livros.

É uma vida, repetia a senhora, é uma vida inteira. E contou que aqueles livros estavam agora à espera de serem catalogados e, a pouco e pouco, arrumados junto dos outros. Foi nesse momento que consegui distinguir com clareza o quanto estavam assustados. Olhavam para todos os lados, não conheciam o futuro que os esperava. Afinal, o eterno podia mudar com tanta facilidade, bastava um sopro. Foi nesse momento que consegui distinguir as suas vozes fininhas, a cruzarem-se no ar daquelas salas, cheiro a livros e a medo. Vestidos com roupas novas, roupas nobres e tão despreparados para as exigências de uma realidade feita de mãos e transtornos, feita de pressa real.

Muito tempo depois de sair de lá, a quilómetros de distância, voltei a pensar naqueles livros. Aquela selecção privada iria diluir-se nas prateleiras da biblioteca. O fim de uma ilusão costuma causar-me melancolia. Foi o caso. Muito provavelmente, na memória daqueles livros, o tempo que passaram nessa casa antiga, protegida, iria diluir-se também. Daqui a anos, depois de mundo e cicatrizes, ao encontrarem-se por acaso poderão nem sequer reconhecer-se. Poderão ser como aquelas pessoas que se reencontram e que não sabem se devem cumprimentar-se ou não e que, ao não fazê-lo, é como se tivessem deixado de conhecer-se.

Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperança em todas as suas formas.


José Luís Peixoto, in Jornal de Letras (Maio, 2011)

Entrevista a José Luis Peixoto

"Abraço" de José Luis Peixoto

No 10º aniversário das Quintas de Leitura (Teatro do Campo Alegre, Porto), José Luís Peixoto apresentará "Abraço", um livro que apresenta uma selecção de textos escritos nos últimos 10 anos.

Como é hábito, esse espectáculo contará com a abordagem de múltiplas artes e artistas à obra proposta. Pela primeira vez, acontecerá em duas noites (27 e 28 de Outubro).

"Abraço" chegará às livrarias de todo o país a 28 de Outubro de 2011.

"Crianças de fogo" de José Luis Peixoto


Crianças de fogo

Ela não sabia que os padeiros estavam em greve. Só soube depois. Ela tinha ido passar a noite com a prima, estavam sozinhas na barraca de madeira, estavam a dormir, quando foram despertadas pelas chamas. Correu para a porta, tentou abri-la, mas estava fechada. Atrás do rugido do fogo, ouviam-se as vozes dos homens na rua. Com queimaduras em todo o corpo, nas mãos, no rosto, ficou em coma durante três meses e, só depois, soube que os padeiros estavam em greve. Foi por isso que os homens vieram queimar a barraca do tio enquanto ele estava a trabalhar na padaria. Foi por isso que trancaram a porta e não a deixaram sair.

Nessa noite, tinha dezassete anos e, no momento em que me conta a sua história, tem vinte e um. É a mais velha, ainda está na associação para continuar a ter oportunidade de estudar em Joanesburgo. Falamos em inglês, mas a sua língua, aquela que a mãe lhe ensinou, é xhosa. Esse é o idioma onde algumas palavras se pronunciam com estalidos da língua. Tenta ensinar a dizer "lagarto" em xhosa, dois estalidos. É muito difícil. Todos nos rimos das tentativas. Ao meu colo está Nkosi, o mais novo, dois anos e oito meses. Nasceu no Zimbabwe e olha para ela com a mesma admiração. Tem o rosto queimado, sem nariz, o lábio de cima desfeito, a pele com uma mistura de tons claros e escuros, cicatrizes grossas negras e manchas claras, dois olhos grandes a verem tudo. Nkosi caiu sobre uma fogueira quando tinha vinte meses. É seropositivo. O seu nome significa: "Obrigado, Deus".

Children of Fire, crianças de fogo. Esta associação não governamental foi fundada na África do Sul por Bronwen Jones quando tomou contacto com Dorah Mokoena, uma menina de três anos, que tinha sofrido queimaduras muito graves aos seis meses de idade, e a quem se preparavam para remover os olhos, pois a sua preservação era demasiado cara e todos acreditavam que morreria em breve. Num país com quilómetros quadrados de barracas iluminadas por candeeiros a petróleo e aquecidas por fogo, que dão origem a mais cinquenta mil incêndios por ano, as vítimas infantis nunca pararam de chegar. Enquanto conversamos, Dorah está por perto. Tem dezassete anos, a boca foi reconstruída com pele recolhida das costas, tem um nariz de borracha, consegue ver claridade e algumas cores, não tem mãos. E sobreviveu.

Bronwen faz um sinal e todas as crianças dirigem-se a mim com um presente. O meu aniversário é na semana seguinte e as crianças fizeram-me um cartão assinado por todos, Happy Birthday from Children of Fire. Rodeiam-me e mostram-me os desenhos que fizeram no cartão, uma página cheia de flores, estrelas e corações. Trocamos beijos, abraços, aperto mãos pequeninas, algumas com falta de dedos, outras sem qualquer dedo. As crianças cantam-me os parabéns. Tiramos uma fotografia juntos.

Antes de chegar, quando ainda só tinha visto as fotografias das crianças na página da associação na internet, pensava que me ia fazer impressão. Nunca tinha estado na presença de tantas pessoas queimadas. Mal atravessei o portão, percebi que não ia ser assim. Estavam todos no pátio e correram na minha direcção, queriam ver-me e queriam brincar. Para lá dos rostos desfigurados e da maior ou menor agilidade, eram crianças. Ao mesmo tempo, percebi a razão das fotografias na página da internet, do documentário e de todas as formas que a associação utiliza para mostrar os seus rostos. Aquelas crianças precisam que o mundo as veja, que o mundo saiba que existem. Mais ainda, o mundo precisa de ver aquelas crianças. É bom para as crianças saberem que o mundo as considera para lá da pele, e é bom para o mundo que seja capaz de considerar os outros para lá da pele.

Feleng tem dez anos e é um rapaz muito engraçado. Quando Bronwen fala de cirurgias, interrompe para descrever aos outros a neve que viu na Suíça e, depois, conta que os médicos lhe tiraram duas costelas e lhas meteram no crânio. Os outro fazem sons e gestos de incómodo e riem-se. Bronwen explica que, assim, o enxerto ósseo crescerá ao mesmo tempo que o crânio. Nunca tinha pensado nisso. Há tanto em que nunca pensei.

Ao passear pela escola, caminho sempre de mão dada com o pequeno Nkosi. Quando chega a hora de ir embora, ele não quer largar-me a mão. Ao despedir-me de todos, ele começa a chorar. Na rua, dou passos, afasto-me e ouço-o a chorar. Já dentro do carro, ainda o ouço a chorar.

José Luís Peixoto, in revista Visão (Setembro, 2011)

Escritor do Mês: José Luís Peixoto


José Luís Peixoto nasceu a 4 de Setembro de 1974 em Galveias, Ponte de Sor. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. A sua obra ficcional e poética figura em dezenas de antologias traduzidas num vasto número de idiomas e estudada em diversas universidades nacionais e estrangeiras. Em 2001, recebeu o Prémio Literário José Saramago com o romance Nenhum Olhar, que foi incluído na lista do Financial Times dos melhores livros publicados em Inglaterra no ano de 2007, tendo também sido incluído no programa Discover Great New Writers das livrarias norte-americanas Barnes & Noble. O seu romance Cemitério de Pianos recebeu o Prémio Cálamo Otra Mirada, atribuído ao melhor romance estrangeiro publicado em Espanha em 2007. Em 2008, recebeu o Prémio de Poesia Daniel Faria com o livro Gaveta de Papéis. Os seus romances estão publicados na Finlândia, Holanda, no Brasil, nos Estados Unidos, entre outros países, estando traduzidos num total de vinte idiomas.

Bibliografia de José Luís Peixoto

Morreste-me (Prosa, 2000)

Nenhum Olhar (Romance, 2000)

A Criança em Ruínas (Poesia, 2001)

Uma Casa na Escuridão (Romance, 2002)

A Casa, a Escuridão (Poesia, 2002)

Antídoto (Prosa, 2003)

Cemitério de Pianos (Romance, 2006)

Cal (Prosa e Teatro, 2007)

Gaveta de Papéis (Poesia, 2008)

Livro (Romance, 2010)

Abraço (28 Outubro 2011)

Blogue: http://joseluispeixoto.blogs.sapo.pt/

Facebook: https://www.facebook.com/people/Jos%C3%A9-Lu%C3%ADs-Peixoto/100000051598484

Citações/Pensamentos:
http://www.citador.pt/textos/a/jose-luis-peixoto

Novo ano letivo e acordo ortográfico


Deixamos-te aqui sugestões para quatro conversores ortográficos a que podes recorrer:

1 - O Conversor do Acordo Ortográfico da Porto Editora é uma ferramenta gratuita que possibilita a adaptação à nova ortografia. O Conversor de texto converte palavras conforme a ortografia antiga para a nova grafia e resolve no mesmo instante qualquer dúvida ortográfica:
http://www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/conversor-texto/
2 - O Lince, uma ferramenta de apoio à implementação do Acordo Ortográfico que converte o conteúdo de ficheiros de texto para a grafia correcta. Suporta vários formatos e permite converter em simultâneo um número elevado de ficheiros de qualquer dimensão.
Clica em: http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=main

3- O do Sapo, que inclui um jogo para testar conhecimentos da ortografia.


4- A Priberam disponibiliza, em serviço gratuito on-line, um conversor para o Acordo Ortográfico, tanto para português europeu quanto para português do Brasil. A partir da janela disponível no ecrã, o utilizador pode digitar as palavras ou as frases (até ao limite de 3000 caracteres) que pretende converter, seleccionar a variedade de português em que estas estão escritas e visualizar as modificações propostas.

Clica em:
http://www.flip.pt/language/en-US/FLiP-On-line/Conversor-para-o-Acordo-Ortografico.aspx

Sugestão de sites que podem ajudar a tirar dúvidas:

Especial Acordo Ortográfico
Dicionário da Língua Portuguesa com novo acordo ortográfico

Jogo

Para testar conhecimentos.
Clica em: http://noticias.sapo.pt/especial/acordo_ortografico/

Novo ano escolar


A equipa da Biblioteca deseja a toda a comunidade escolar um bom ano. Esperamos contar com a vossa visita. Para todos um excelente ano letivo cheio de sucesso!

domingo, 11 de setembro de 2011

Um Poema: MÃEZINHA, António Gedeão - Vitor D' Andrade



"Um Poema por Semana" é uma ideia de Paula Moura Pinheiro. São 15 poemas em 75 dias, ditos por 75 pessoas.
www.rtp.pt/umpoemaporsemana; www.facebook.com/rtpdois

O 25 DE ABRIL CONTADO PELA MARIA ANTUNES

  A MARIA FREQUENTA O 4.º ANO DA ESCOLA BÁSICA DA REGEDOURA. GRAVOU ESTE VÍDEO, SOBRE O 25 DE ABRIL, PARA ENVIAR  À SUA PROFESSORA, DIANA OL...