sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

14 de Fevereiro- Dia dos Namorados















Amar


Que pode uma criatura senão,

entre criaturas, amar?

amar e esquecer,amar e malamar,

amar, desamar, amar?

sempre, e até de olhos vidrados amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão

rodar também, e amar?

amar o que o mar traz à praia,

o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de

amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração

expectante, e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor, um chão de

ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de

rapina.Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas

pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na

concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor.





Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água

implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.




Carlos Drummond de Andrade

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